Diabetes causa perda de visão? Entenda se é aos poucos ou de repente
Você tem diabetes ou conhece alguém que convive com a doença e teme perder a visão? A verdade é que o diabetes pode afetar os olhos de forma lenta ou até repentina. Neste artigo, você vai entender por que isso acontece e como se proteger.
Diabetes causa perda de visão de uma hora para outra ou aos poucos?
Você já se perguntou se o diabetes pode causar cegueira de forma repentina? Essa é uma dúvida comum — e legítima — entre pacientes diabéticos. A resposta, embora pareça confusa à primeira vista, é clara: o diabetes pode levar à perda de visão tanto de forma lenta e progressiva quanto repentina e inesperada. Entender como isso ocorre é essencial para prevenir complicações e preservar a saúde ocular.
A importância da prevenção: uma doença silenciosa
O diabetes mellitus, principalmente o tipo 2, é uma condição crônica que afeta cerca de 10% da população brasileira. A doença interfere diretamente na circulação sanguínea, incluindo os vasos delicados da retina — a estrutura responsável por captar as imagens que enxergamos.
A complicação mais conhecida é a retinopatia diabética, que ocorre quando os vasos sanguíneos da retina são danificados pelo excesso de glicose no sangue. O problema é que essa alteração, na maioria das vezes, não causa sintomas nos estágios iniciais, o que torna o acompanhamento oftalmológico regular ainda mais essencial.
Perda de visão aos pouquinhos: como a doença progride
A forma mais comum de comprometimento visual em quem tem diabetes ocorre gradualmente. Inicialmente, pode surgir embaçamento da visão, causado por edema macular diabético, um inchaço na mácula (região central da retina responsável pela visão de detalhes). Isso pode se desenvolver desde os estágios moderados da retinopatia e, com o tempo, comprometer significativamente a visão se não for tratado.
Além disso, o diabetes descompensado acelera o desenvolvimento da catarata, que pode surgir mais precocemente e progredir mais rápido nos diabéticos do que em pessoas sem a doença. A catarata provoca uma visão turva, como se estivéssemos olhando através de um vidro embaçado, e a perda de visão tende a ser progressiva.
Outro tipo de complicação crônica é o descolamento tracional da retina, que ocorre quando vasos anormais formados devido à retinopatia proliferativa puxam a retina com o tempo. Essa tração contínua pode descolar a retina aos poucos, levando à perda de visão progressiva.
Perda de visão repentina: quando o problema aparece do nada
Por mais surpreendente que pareça, existem sim casos em que a perda visual acontece de uma hora para outra. E, infelizmente, não são raros.
1. Hemorragia vítrea
Na retinopatia diabética proliferativa, formam-se neovasos, que são vasos sanguíneos frágeis e anormais. Eles podem romper repentinamente, liberando sangue dentro do olho (no vítreo). O paciente relata que a visão "apagou" ou "escureceu" de um momento para o outro, o que pode ser extremamente assustador. Muitas vezes, esse é o primeiro sinal de que havia uma retinopatia avançada.
2. Neuropatia óptica isquêmica
Outra complicação súbita e grave é a neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica, uma espécie de “infarto” do nervo óptico. Ela compromete subitamente o campo visual e pode causar perda visual permanente. É mais comum em pessoas com diabetes e hipertensão. Estudos recentes observaram um risco levemente aumentado em pacientes diabéticos que usam medicamentos como semaglutida (Ozempic®), embora os benefícios do controle glicêmico continuem superando os riscos quando há acompanhamento médico adequado.
3. Descolamento de retina súbito
Embora o descolamento tracional da retina geralmente seja lento, em alguns casos pode haver rompimento repentino de membranas fibrovasculares, resultando em um descolamento abrupto, com perda visual aguda.
O que mudou com os avanços da medicina?
Se antigamente o diagnóstico de retinopatia diabética ou de edema macular era quase uma sentença de cegueira, hoje o cenário é diferente. A oftalmologia moderna dispõe de diversos recursos para preservar — e até recuperar — a visão:
Injeções intravítreas de antiangiogênicos (como ranibizumabe e aflibercepte): ajudam a controlar o edema macular e a regressão dos neovasos.
Fotocoagulação a laser: utilizada para cauterizar vasos anormais e prevenir sangramentos.
Vitrectomia: cirurgia indicada para remover o vítreo com sangue ou tração, muito eficaz em hemorragias vítreas e descolamentos tracionais.
Cirurgia de catarata (facoemulsificação): segura e eficaz, devolve a nitidez da visão quando o cristalino está opaco.
A melhor forma de proteger sua visão: acompanhamento regular
A principal mensagem que deixo é: ter diabetes não significa que você vai perder a visão, mas o acompanhamento é essencial. Mesmo que você enxergue bem, é fundamental realizar consultas oftalmológicas pelo menos uma vez ao ano, com exames detalhados do fundo de olho.
Muitas pessoas descobrem que têm retinopatia avançada só quando a visão já está comprometida. Em alguns casos, nem sabiam que tinham diabetes — o que ressalta a importância dos check-ups periódicos com exames de glicemia e avaliações oftalmológicas de rotina.
Conclusão: aos poucos ou de repente, o risco é real — mas pode ser prevenido
A perda de visão no diabetes pode acontecer de forma gradual, como nos casos de edema macular e catarata, ou de forma abrupta, como em hemorragias vítreas e neuropatias ópticas. Por isso, não espere sentir sintomas para procurar um oftalmologista. Quanto mais cedo as alterações forem identificadas, maior a chance de tratamento eficaz e preservação da visão.
A prevenção ainda é o melhor remédio. Controle a glicemia, adote hábitos saudáveis e mantenha seu acompanhamento oftalmológico em dia. Sua visão merece esse cuidado.
Autor: Dr. Mário César Bulla
Cremers 28120
Médico Oftalmologista - Retinólogo